Amigos,
Segue um artigo que escrevi para a revista Inn Focco – Dezembro / 2012 e que gostaria de compartilhar com vocês.
Certo dia, casualmente, eu estava lendo um dos meus poemas prediletos: E agora José? do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. Eis um trecho do poema: “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? ...” Este José, do poema, se parece com muitos dos meus pacientes, que estão em quadros depressivos. Eles sentem-se encurralados, desanimados, culpados, tristes, cansados, sem esperança... Como se nada fosse mudar, como estivessem no fim... Sem saída!
Os Transtornos Depressivos são os quadros que mais geram esta sensação de desamparo e desesperança. Os pacientes tem a sensação de que nada vai melhorar, não existe luz no fim do túnel, aliás, esta é uma alusão muito comum pensar no futuro como um corredor muito extenso e que lá no fundo parece que está tão estreito que não conseguirão passar. Estas sensações provavelmente estão influenciadas por um fenômeno no cérebro: a baixa produção de um neurotransmissor chamado Serotonina. Quando esta importante substância falta é como se o mundo ficasse cinza, daí todas as impressões ficam negativas, pessimistas... Os comportamentos são afetados por estas interpretações e o indivíduo deixa de fazer muitas coisas que antes lhe davam prazer e satisfação. Eles passam a isolar-se, como se fosse uma espécie de desistência.
Daí outro dia, também casualmente, eu ouvia uma bela canção do poeta e músico Renato Russo, chamada Mais Uma Vez. Eis um pequeno trecho: “Mas é claro que o sol vai voltar amanhã mais uma vez, eu sei. Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã. Espera que o sol já vem...”. Imaginei que se fosse possível um diálogo entre os dois poetas: Renato Russo e o Carlos Drummond de Andrade, talvez a esperança pudesse vencer o medo. A música é uma visão terapêutica dos sintomas vistos no poema e seria uma boa oportunidade de ajudar o “José” do poema, mostrando que aquela negatividade, aquela sensação de que nada poderia melhorar é falsa. Que se o “José” pudesse se esforçar, procurar alguma ajuda e olhar por outro ângulo talvez haja não só uma luz no fim do túnel, mas um sol inteiro que volta brilhar.
Evidentemente, os pacientes que nos procuram sobre influência dos sintomas depressivos, merecem todo o cuidado e o entendimento de que tais sintomas não são produzidos voluntariamente, mas que as estratégias para sair destes sintomas dependem de um esforço voluntário para aderir à medicação, quando esta se fizer necessária. E também, buscar enfrentamentos terapêuticos, tais como o trabalho cognitivo, que consiste na mudança de percepção, interpretação e pensamentos a partir técnicas da terapia. Bem como, a mudança de comportamentos, a saber: voltar a praticar comportamentos que o paciente domina (tem habilidades para fazer: trabalho, esporte, convívio social) e sente prazer após a execução dos mesmos.
Acredito que a arte nos inspira reflexões, traz à tona sentimentos e nos permite partilhar das visões dos artistas, que também perpassam por nós mesmos. Dessa forma, penso que vale a pena tentar outro olhar sobre o mesmo fenômeno, ainda que este seja uma patologia como a Depressão. Se você conhece alguém que está passando por um momento parecido com o do “José” apresente outra percepção: A de que o Sol pode voltar a brilhar... Que há esperança, e que a vida merece ser vivida com mais alegria, portanto faz-se mister lutar para alcançar a saúde e a qualidade de vida.
Weslley Nazareth
Psicólogo (CRP/04: 22768)
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